terça-feira, 5 de maio de 2009

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia.
A vida assim, jamais cansa.
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas..
Deixa-me seguir para o mar
Tenta esquecer-me
Ser lembrado é como evocar-se um fantasma
Deixa-me ser o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão em mim as crianças banhar-se
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir
É seguir para o Mar.
Deixa-me fluir, passar, cantar
Toda a tristeza dos rios é não poderem parar!

Canção do Amor Imprevisto

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos.
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
Nada, numa alegria atônita.
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
Quando abro a cada manhã
A janela do meu quarto
É como se abrisse o mesmo livro
Numa página nova...

Das Descrições

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...
Aceitarás o amor como eu o encaro ?
Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada.
Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições.
O encanto
Que nasce das adorações serenas.

Mude

" Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lugar da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
Procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente..."